Saúde mental dos adolescentes é tema central nas escolas
Instituições privadas investem em psicólogos e equipes preparadas para lidar com ansiedade e depressão no ambiente escolar
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que de 10% a 20% dos adolescentes de todo o mundo vivenciem problemas de saúde mental. Metade de todas essas condições começam aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detectada, muito menos tratada. É exatamente no Ensino Médio, época que precede a escolha de uma profissão e acontece a realização do Enem, que o assunto requer ainda mais atenção de pais, professores e escolas.
A OMS diz que enquanto a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre os adolescentes, o suicídio aparece como a terceira principal causa de morte entre pessoas de 15 a 19 anos. Sinais de transtornos mentais podem ser negligenciados por uma série de razões, tais como a falta de conhecimento ou conscientização sobre saúde mental entre trabalhadores de saúde, ou o estigma que os impede de procurar ajuda.
Enfrentar o quadro é uma tarefa compartilhada entre pais e escolas. A coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Ciências Aplicadas, Patrícia Messias, explica que a ansiedade aparece no topo dos problemas relatados pelos alunos. Por conta dela, acabam por desenvolver outros problemas como dermatite atópica e distúrbios do sono. O uso excessivo das redes sociais completa o quadro, contribuindo para reduzir a autoestima e desregular o sono.
“Estamos ao máximo tentando tirar essa ansiedade em momentos de avaliação, oferecendo escuta e fazendo dinâmicas com eles. Temos um trabalho direcionado para o acompanhamento do projeto de vida, que foca em suas relações de amizade e com os pais, suas perspectivas para o futuro. Também desenvolvemos um trabalho importante para desestressá-los quando o Enem está chegando perto”, conta Patrícia, que tem o auxílio de uma psicóloga na tarefa.
A coordenadora diz que o trabalho de escuta é permanente e, a cada bimestre, na reunião de pais, a equipe separa um momento para conversar sobre os temas pertinentes ao adolescer e tudo que os estudantes enfrentam nessa fase da vida. “Assim que o aluno nos sinaliza ou detectamos um comportamento ansioso ou triste, chamamos os pais para conversar e orientar. O setor de psicologia da escola não tem função terapêutica, mas de acolhimento e detecção da demanda dos alunos. Fazemos essa escuta e acolhimento e chamamos a família para conversar e orientar”, completa
A psicóloga Beatriz Fenner reforça que a adolescência é uma etapa marcada por mudanças corporais e psicológicas importantes, que geram um desequilíbrio e exigem readaptação dos adolescentes frente às novas exigências sociais, culturais e dos pais. “Paralelo a isso, vivemos um momento histórico com acesso a informação numa velocidade nunca vista antes, e com as redes sociais, observamos impactos significativos na autoestima. Nesse momento da vida eles são inseguros consigo mesmos, fazem comparações com os colegas e aquilo que veem nas redes, então é um excesso de dificuldades para lidar”, pontua.
Embora a escola seja um lugar de desenvolvimento da aprendizagem, é também um local para desenvolvimento das relações. Segundo Beatriz, os estudantes precisam lidar com outros adolescentes e adultos, aprender a estabelecer limites, respeitar as regras e o espaço do outro. Para ela, escolas preocupadas com a saúde mental de seus estudantes e que dispõem de recursos para se atualizar, devem investir em cuidados e estratégias de orientação para os profissionais que compõem o quadro.
“Contratar psicólogos escolares, realizar testes vocacionais, promoção de dinâmicas, rodas de conversa e palestras são importantes para ajudar os jovens a entenderem a fase que estão passando. Importante estabelecer aulas mais dinâmicas, em que possam fazer grupos e dialogar com os colegas, e que se sintam acolhidos pelos professores e profissionais”, descreve.
Os pais têm papel fundamental no desenvolvimento de seus filhos e, nesta fase em particular, dar o exemplo faz toda a diferença segundo a psicóloga. “É importante lembrar que eles são os adultos da relação e já passaram por essa fase da vida. Educar pelo exemplo, permitir que o filho fale e se interessar por ouvir o que ele tem a dizer eleva a autoestima e dá ao adolescente senso de importância”, finaliza.
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